A pandemia de Covid-19 mostrou que consolidação da presença das igrejas no ambiente digital, antes considerado apenas como uma alternativa complementar ao templo físico, é uma necessidade. Com a aceleração da curva de contágio, congregações de todo o país suspenderam cultos e celebrações para evitar aglomerações e uma possível transmissão em massa do vírus entre os fiéis. Um desafio, então, se impôs: como pregar o Evangelho e cultivar relacionamentos de portas fechadas?
A resposta estava nas tecnologias digitais. Milhares de igrejas brasileiras precisaram recorrer a transmissões ao vivo, webinars (seminários online) e videoconferências para manter suas atividades. As congregações que já contavam com infraestrutura tecnológica adequada saíram na frente. Para as que não dispunham desse aparato, por outro lado, a transição para o ambiente digital precisou ser feita em tempo record, o que maximizou um desafio já grande.
Mas a adesão massiva das congregações ao digital não significa que a implementação da igreja online tenha sempre sido encarada com bons olhos. Pelo contrário: muitos líderes resistiam à ideia e a viam com desconfiança. Acreditava-se igreja online não conseguiria trazer pessoas a Cristo, que poderia competir com a igreja local ou mesmo prejudicá-la.
A crença, no entanto, estava equivocada. Segundo o levantamento State of the Online Church, conduzido em 2018 pela Igreja Saddleback, na Califórnia (EUA), 59% das igrejas experimentaram crescimento após o lançamento de um ministério online. O estudo, que reuniu dados de 176 igrejas, também mostra que 75% das pessoas primeiro assistem ao culto online para depois irem ao templo.
Conexão em tempos de isolamento
Na pandemia, com as portas do templo fechadas, o desafio deixou de ser atrair as pessoas para a igreja física. Em vez disso, foi preciso transformar o ambiente digital em um espaço acolhedor, capaz não só de reter membros e visitantes, mas sobretudo de suprir a necessidade de conexão que as pessoas sentiam em meio ao isolamento social.
Dados mostram que a igreja online teve um papel importante para a manutenção da saúde mental dos fiéis durante a quarentena. De acordo com levantamento do Barna Research Group, empresa norte-americana especializada em pesquisas no segmento religioso, cristãos que pararam de frequentar a igreja na pandemia são menos propensos a concordar com a afirmação “Não estou ansioso com a minha vida, pois tenho a paz interior de Deus”.
O levantamento aponta também que cristãos praticantes que pararam de frequentar a igreja no mesmo período são mais propensos do que outros cristãos praticantes a dizer que se sentem entediados “o tempo todo” (17% contra 6%) ou que se sentiram “inseguros” (11% vs. 7%).
Embora a pesquisa não seja capaz de determinar a causa dessas correlações – vale ressaltar que, durante uma pandemia, os fatores que impactam o bem-estar são muitos –, ela indica que a manutenção de um clima emocional saudável é mais desafiador para aqueles que não fazem parte de uma comunidade online.
Igreja online: para além das transmissões ao vivo
Apesar de estar em alta, o conceito de igreja online é relativamente novo. Muitas congregações, especialmente as que até bem pouco tempo não dispunham de infraestrutura tecnológica, ainda estão descobrindo como incorporar o digital ao próprio dia a dia.
É comum que essa adesão comece a partir da transmissão ao vivo do culto, conforme aponta o levantamento State of the Online Church: 90% das igrejas entrevistadas transmitem as reuniões online em tempo real. No entanto, é importante que as congregações diversifiquem o conteúdo. Até mesmo os formatos mais populares podem saturar o público se explorados em excesso, como ocorreu com as lives durante a pandemia.
Para que a igreja seja de fato online, é preciso que ela traga toda a sua membresia para o ambiente digital, o que inclui oferecer células e atendimentos pastorais nessa nova modalidade e dispor dos dados cadastrais dos membros em nuvem. Só assim a congregação poderá discipular pessoas e manter-se viva, próxima e atuante a distância.
Igreja online e redes sociais
Muitas igrejas entendem que estar presente no ambiente digital significa estar presente nas redes sociais. Isso não é verdade: o universo digital é extremamente amplo, e as redes sociais são apenas uma parte dele. Aliás, vale ressaltar que, embora oportunas para evangelismo, essas plataformas não são a melhor escolha quando o assunto é distribuição de conteúdo. Isso porque é o algoritmo da rede social que determina se uma publicação é ou não interessante para o usuário, o que pode prejudicar a posição que o post da igreja ocupa no feed do público.
Outro ponto crítico é que, ao se cadastrar em plataformas como Facebook e Instagram, a igreja automaticamente concede às empresas o direito de usar suas fotos e vídeos por tempo indeterminado. Segundo os termos de uso do Instagram, por exemplo, a rede social pode “hospedar, usar, distribuir, modificar, veicular, copiar, exibir ou executar publicamente, traduzir e criar trabalhos derivados de seu conteúdo”.
Uma vez que a permissão só é encerrada ao excluir o conteúdo ou conta, a congregação perde não apenas a autonomia sobre a distribuição do material, mas também sobre o material propriamente dito. Vale lembrar ainda que, se a rede social é suspensa ou sai do ar, todas as publicações deixam de estar acessíveis, mesmo que temporariamente.
Para que a igreja online possa garantir a propriedade dos materiais que ela mesma produz, ter autonomia sobre a distribuição do conteúdo, construir relacionamentos sólidos e tratar os dados dos membros e visitantes de forma segura, a melhor saída é investir em canais proprietários, como site e aplicativo. Quando comparados às redes sociais, eles também minimizam as chances de distrações, já que o espaço não é compartilhado com outros criadores de conteúdo, e o usuário pode se concentrar unicamente na mensagem veiculada pela igreja.
O que será da igreja online pós-pandemia?
A chegada da Covid-19 revelou às igrejas que, com o suporte das tecnologias digitais, é possível estar distante e, ainda assim, conectado. No entanto, mais do que apenas digitalizar processos, é preciso adotar uma cultura digital. Em outras palavras, a igreja deve ampliar sua visão e pensar não apenas em recursos isolados, mas em soluções integradas que componham um verdadeiro ecossistema digital, conectando todas as áreas e processos do ministério.
Desta forma, será possível:
- Cruzar dados para acompanhar a membresia de forma inteligente;
- Potencializar o alcance da comunicação;
- Simplificar mecanismos de gestão;
- Oferecer novas possibilidades de interação;
- E mensurar a expansão da congregação.
Independente de pandemias, a igreja online já é parte do futuro. Contudo, ela não pode simplesmente ser uma réplica do ministério offline. A igreja online deve ser um organismo autônomo, mas coexistindo e sempre trabalhando em harmonia com a igreja de quatro paredes. Assim o “ide” é cumprido com excelência, eficácia e inteligência.
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