Dois terços (66%) dos jovens que frequentaram uma igreja cristã regularmente por pelo menos um ano quando adolescentes dizem que deixaram de ir à igreja por pelo menos um ano, entre as idades de 18 e 22 anos. Os dados são de levantamento da empresa Lifeway Research, em Nashville, Estados Unidos. 

Apesar de a pesquisa não ter sido conduzida no Brasil, os resultados obtidos encontram eco na realidade brasileira. Jovens têm deixado a igreja por uma série de razões: desde entrada na faculdade até falta de conexão com os membros da congregação. A juventude que está fora das portas do templo, por sua vez, costuma ver a igreja como uma reunião de pessoas que obedece cegamente a regras inflexíveis e que ignora as principais discussões da atualidade. 

Diante de um cenário tão difícil, pastores e líderes se deparam com uma série de perguntas. Como atrair jovens para a igreja? Como engajá-los na comunidade local? Como mantê-los firmes na Palavra? Este artigo apresenta não respostas prontas, mas caminhos possíveis para responder essas questões. 

Faça cultos de jovens, não para jovens

Muitos acreditam que as igrejas que atraem jovens e adolescentes são aquelas que têm um pastor tatuado e com roupas da moda, palcos com jogos de iluminação deslumbrantes e equipes de louvor com performance digna de bandas que se apresentam no Rock in Rio. O apego a essa crença faz com que ministérios invistam tempo, dinheiro e esforços para se tornar “cool” e despertar a atenção do jovem. Mas e se ele não estiver em busca disso? 

Após entrevistarem mais de 1.300 jovens entre 15 e 29 anos, Kara Powell, Jake Mulder e Brad Griffin, autores do livro “Growing Young: Six Essential Strategies to Help Young People Discover and Love”, descobriram o que esse grupo realmente quer: autenticidade e conexão

Faça cultos de jovens para Cristo, e não cultos para jovens

“Quando analisamos os termos que os jovens usaram para descrever as igrejas que escolheram, notamos palavras repetidas: acolhimento, aceitação, pertencimento, autenticidade, hospitalidade e cuidado”, escreveram os autores em artigo do jornal The Washington Post. 

Para Fernanda Rezende, Analista de Sucesso do Cliente da inChurch que atuou como líder de jovens cristãos por seis anos, a conclusão do estudo norte-americano encontra eco na realidade das igrejas brasileiras. “A estética das igrejas de hoje é muito mais moderna e atrativa, então trazer jovens para o templo é relativamente fácil. O desafio, na verdade, é mantê-los na Palavra”, opina.

Para isso, a saída é fazer cultos de jovens, e não para jovens. A diferença é simples: enquanto o último é pensado para agradar os mais novos e chamar a atenção deles, o primeiro consiste nos jovens envolvidos na comunidade local e prestando culto a Deus, o único que devemos agradar. 

Use as redes sociais para contar histórias 

Instagram e TikTok estão entre as redes sociais favoritas do público jovem. Segundo dados compilados pela empresa Twist, 33% da base global de usuários do Instagram corresponde a pessoas na faixa etária de 25 a 34 anos. Os jovens com idade entre 18 e 24 anos, por sua vez, representam 24,1% do público. No TikTok, rede social de vídeos curtos, ocorre um fenômeno muito parecido: de acordo com a empresa GlobalWebIndex, 41% dos usuários do aplicativo no mundo têm entre 16 e 24 anos. 

Use as redes sociais da igreja para atrair jovens

Se esse é o público que a sua igreja quer atingir, por que não aproveitar as redes sociais acima como canais de evangelismo? Conte histórias – em vídeo ou texto – que mostrem a transformação que Cristo promoveu na vida dos jovens da igreja e produza conteúdos que respondam às necessidades daqueles que precisam conhecer Jesus, mas ainda não sabem disso.  

Preste atenção à linguagem dos posts e comunique-se sempre de forma clara, seja com seriedade ou bom-humor. Se possível, aproveite os assuntos que estão em alta no momento (discussões, séries, filmes, acontecimentos etc) para gerar conteúdo cristão relevante. 

Não espere os jovens virem. Vá até eles

A igreja foi chamada para cumprir o ide (Marcos 16:15). Isso significa que ela não deve se limitar às quatro paredes do templo, mas ir em busca daqueles que precisam ouvir sobre Cristo. Pode parecer óbvio, mas muitos se esquecem desse fato, inclusive quando o assunto é evangelização de jovens. 

Estabeleça células em campus universitários para atrair jovens
Foto: Reprodução/Freepik

Em vez de esperar que eles venham até o templo após uma série de convites insistentes, vá até onde os jovens estão. Você pode estabelecer células em campus universitários ou fazer cultos urbanos em praças ou lugares públicos frequentados pelos jovens e adolescentes da sua cidade, por exemplo. 

Invista em células para jovens 

As células costumam ser a porta de entrada na igreja para muitas pessoas, já que as reuniões são mais intimistas e têm menos “cara de culto”, o que costuma ser visto com bons olhos por quem tem resistência a frequentar um templo. Justamente por isso, vale a pena investir em células específicas para jovens. 

As células são uma ótima forma de integrar a juventude à comunidade local

Além de serem estratégicos para atração de visitantes, os pequenos grupos são parte fundamental no processo de consolidação de novos convertidos, já que permitem que jovens e adolescentes se relacionem com outros que professam a mesma fé que eles. Vale lembrar que as células também favorecem o discipulado. 

Seja exemplo de santidade e humanidade

A pesquisa da Lifeway Research investigou os motivos que levam os jovens a deixar a igreja e concluiu que a segunda maior razão (32%) para o afastamento é a percepção que os membros da igreja são hipócritas ou julgadores. Para Fernanda Rezende, os dados apontam para a importância de uma liderança autêntica, que é exemplo de santidade, mas não esconde sua humanidade

“Muitas vezes, para reter um jovem, o líder se esforça para se mostrar alguém extremamente santo. Acontece que essa postura nem sempre aproxima, porque a pessoa pensa ‘poxa, meu líder é um exemplo, mas eu nunca vou conseguir ser como ele’. É por isso que a liderança precisa ser acessível. O líder deve inspirar santidade, mas também se mostrar humano e compreensivo”, afirma Fernanda. 

Álvaro Medeiros, Customer Marketing da inChurch e líder de jovens na Igreja Batista Farol, compartilha da opinião de Fernanda e acredita que o caminho para o relacionamento saudável entre líderes e liderados está no equilíbrio entre ser vulnerável e demonstrar segurança

“Muitos jovens estão distantes da igreja porque a veem como lugar de julgamento. Para desfazer essa percepção, precisamos dizer para o jovem ‘Eu estou aqui não para te julgar, mas para te escutar e dizer que eu já saí desse lugar onde você está, e você pode sair também’”, diz Álvaro.   

Mude a mentalidade de ‘você não pode’ para ‘você não precisa mais’

Não são poucos os jovens (tanto cristãos quanto não cristãos) que enxergam o cristianismo e a vida com Deus como um conjunto inflexível de regras limitantes. “Não posso beber, não posso xingar palavrões, não posso fazer sexo, não posso isso, não posso aquilo”, pensam eles. 

Mostre aos jovens que eles são livres em Cristo

Se a igreja impuser aos jovens uma lista de pecados que eles não podem cometer, não vai demorar muito até que eles se sintam presos e sufocados. Mas o evangelho não aprisiona; o evangelho liberta. E é essa verdade que a igreja deve se esforçar para transmitir aos jovens. 

Explique que, embora não seja proibido fazer determinadas coisas, eles não precisam mais dessas coisas para serem completos e felizes, porque a graça de Deus os basta (II Coríntios 2:9). Além disso, estimule-os não a temer punições, e sim a agradar o coração do Pai por meio de uma vida de santidade. A verdadeira liberdade está justamente em poder pecar e decidir não fazê-lo.

Fale sobre o que está acontecendo na sociedade

Os adolescentes e jovens adultos cristãos desta década não são como os de anos atrás. Eles têm acesso instantâneo à informação, consomem diversos produtos culturais, têm visões próprias a respeito de questões políticas e sociais e, como cristãos, buscam formas de conectar a fé em Cristo ao mundo em que vivem. Cabe à igreja fazer essa ponte, ensinando-os a analisar todas as coisas à luz da Palavra de Deus, para que eles retenham apenas o que é bom (I Tessalonicenses 5:21).

Acontece que, para muitos jovens, essa experiência tem sido mais sufocante que educativa. É o que mostra a pesquisa “Seis razões pelas quais jovens cristãos deixam a igreja”, do instituto Barna Research Group. Segundo o levantamento, 25% dos entrevistados de 18 a 29 anos afirmam que “os cristãos demonizam tudo fora da igreja”. Além disso, eles também acreditam que “a igreja ignora os problemas do mundo real” (22%).

Não é segredo para ninguém que há uma série de assuntos encarados como tabus no meio cristão. Temas como machismo, racismo e sexualidade, por exemplo, ainda são vistos como polêmicos por algumas igrejas, que evitam debatê-los. O problema é que, ao se calar sobre esses assuntos, a igreja deixa de ser voz ativa na sociedade. 

“Uma igreja que se omite é uma igreja que se perde. Se o jovem ouve o dia inteiro na faculdade que o aborto é o correto a se fazer, por exemplo, e a igreja não fala nada a respeito, como fica a cabeça desse jovem? É preferível que ele ouça os dois [a universidade e a igreja] e faça as próprias escolhas”, opina Álvaro Medeiros. Segundo pesquisa da LifeWay Research, quase metade (47%) dos jovens que deixaram a igreja disseram que a faculdade desempenhou um papel em sua ausência por pelo menos um ano.

Abra espaço para dúvidas e questionamentos

É comum que líderes enxerguem jovens questionadores como rebeldes e os afastem por acreditar que eles não respeitam autoridade. Isso faz com que muitos meninos e meninas se sintam inseguros para esclarecer dúvidas e associem a igreja a um lugar onde não há espaço para diálogo. 

Esteja aberto a ouvir as dúvidas e questionamentos da juventude

Prova disso é que, ainda de acordo com o levantamento do Barna Research Group, 36% dos jovens disseram não ser capazes de fazer suas perguntas de vida mais urgentes na igreja. A pesquisa mostra também um efeito perigoso do sufocamento dos questionamentos: 23% dos entrevistados afirmaram ter dúvidas intelectuais significativas sobre a própria fé

Em vez de temer ou afastar os jovens que questionam, a igreja deve recebê-los com atenção. Aliás, ter pessoas questionadoras no ministério deveria ser motivo de entusiasmo. Isso porque quem questiona está pensando e quer saber mais sobre o assunto. Use as dúvidas como catalisadores da fé dos jovens.


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