Vivemos em um tempo de oportunidades únicas para a Igreja de Cristo, se, por um lado, os desafios da inclusão continuam a exigir sensibilidade e ação, por outro, a tecnologia tem se mostrado uma aliada poderosa para ampliar o alcance do Evangelho, especialmente entre pessoas com deficiência auditiva.

Um exemplo inspirador desse avanço vem da Igreja Memorial de São Paulo, que tem utilizado a plataforma da inChurch como ferramenta estratégica de inclusão e discipulado.

Acessibilidade como missão: mais que uma estrutura, uma cultura

O Ministério Com os Surdos da Igreja Memorial tem um objetivo claro: pastorear a comunidade surda, garantindo que eles tenham pleno acesso à vida da igreja. Desde os cultos até os encontros infantis, acampamentos e retiros, tudo é planejado com intencionalidade para que barreiras linguísticas não sejam obstáculos à comunhão e ao crescimento espiritual.

O Pastor Sandro Cruz, responsável por esse ministério, compartilha que a acessibilidade é, hoje, o ponto central da atuação com os surdos: “A acessibilidade hoje é o carro-chefe. Para que um surdo possa participar da nossa programação, é preciso que a barreira linguística seja quebrada.” Essa barreira começa a ruir quando a igreja entende que a Língua Brasileira de Sinais (Libras) não é um recurso extra, mas sim o idioma de uma comunidade inteira que precisa ser alcançada.

Um Brasil que ouve pouco os surdos

Segundo dados do IBGE, o Brasil conta com aproximadamente 10 milhões de pessoas com algum grau de deficiência auditiva. Isso significa que milhões de brasileiros vivem, cotidianamente, à margem de comunicações essenciais, incluindo as espirituais. A ausência de acessibilidade nas igrejas não é apenas uma limitação operacional, mas uma falha na missão.

A dimensão desse desafio é ainda maior quando olhamos para o cenário global, a Federação Mundial de Surdos estima que apenas 2% dos surdos no mundo são cristãos. Em outras palavras, a grande maioria dessa comunidade ainda não teve acesso efetivo ao Evangelho em sua própria língua.

Por isso, o trabalho da Igreja Memorial não é apenas pontual, é estratégico e missional. Ao investir na comunicação em Libras e na acessibilidade de eventos e cultos, a igreja está abrindo portas para que surdos e seus familiares possam conhecer a Cristo, crescer na fé e se integrar plenamente à comunidade cristã.

Tecnologia a serviço do Reino: um case real de inclusão digital

Nesse cenário, a tecnologia tem se tornado uma ponte fundamental. A utilização do aplicativo da inChurch permitiu à igreja romper barreiras físicas e geográficas. Surdos que não fazem parte da congregação local, mas que vivem em outras cidades ou estados, agora têm acesso aos conteúdos e podem participar de eventos, tudo isso por meio de links de inscrição compartilháveis, que funcionam mesmo para aqueles que ainda não possuem o aplicativo instalado.

Esse avanço também dialoga com um dado relevante, o Barna Group mostra que mais da metade dos pastores (52%) não recebe apoio profissional para lidar com os desafios ministeriais. Isso sugere que soluções digitais, como plataformas de gestão e inclusão, não apenas ampliam o alcance da igreja, mas também oferecem suporte prático à liderança pastoral, aliviando parte do peso de conduzir comunidades em um tempo de tantas complexidades.

“Eu acabei de abrir o acampamento de surdos e o Encontro de Casais Surdos, e usamos esse link para que o surdo que não está aqui, que não tem o app, possa se inscrever da mesma forma e participar da programação”, relatou o Pastor Sandro Cruz. Essa facilidade expande o raio de alcance da igreja e transforma eventos locais em oportunidades nacionais de inclusão.

Além disso, os cultos transmitidos ao vivo contam com janela de interpretação em Libras integrada, proporcionando entendimento e participação efetiva. O feedback tem sido imediato: surdos relatam como os cultos os edificam, e tocados pela transmissão, decidem levar seus familiares para fazer parte da comunidade.

A igreja como referência de inclusão

A proposta não é apenas adaptar eventos esporádicos, mas consolidar uma cultura de inclusão como um reflexo da missão de Cristo. Ao tornar-se uma referência em acessibilidade, a Igreja Memorial mostra que é possível unir tecnologia e propósito com sabedoria.

“A ferramenta me ajuda a fazer um alcance ainda maior”, resume o pastor. A acessibilidade, aqui, não é um fim em si, mas um meio para que mais pessoas possam ser alcançadas pelo amor e pela verdade do Evangelho.

Conclusão: o compromisso da igreja com todos os povos, inclusive os que não ouvem com os ouvidos

A tecnologia, quando bem utilizada, é um reflexo da graça de Deus: ela ultrapassa fronteiras, derruba muros e conecta corações. Nesse sentido, a parceria entre a Igreja Memorial e a plataforma da inChurch tem revelado que a acessibilidade não é apenas uma pauta social, é um chamado espiritual.

E esse chamado ecoa nas palavras do profeta Isaías:

“Minha casa será chamada casa de oração para todos os povos.”
Isaías 56:7

Que esse case inspire outras igrejas a repensarem seus espaços, estruturas e ferramentas. Pois enquanto houver uma única alma que ainda não pôde ouvir, ou ver em Libras, as Boas-Novas de Jesus, a missão ainda não está completa.

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